Ao reluzente nascer do sol, a luz da aurora de um novo dia iluminava as montanhas e alegrava
a tudo ali presente. Um jovem rapaz que aparentava ser um errante caminhava, caminhava
por aquela área, portando consigo um cajado quase de seu tamanho, algumas roupas e um
pouco de comida que não duraria por uns quatro dias. Ele possuia olhos verdes bem claros,
como a água limpa de um riacho. Cabelo comprido negro, preso em um rabo de cavalo, e sua
estatura era mediana, nem muito alta nem muito baixa. O jovem andarilho planejava chegar à cidade mais
próxima em dois dias, passando por uma estreita brecha em uma montanha.
Ao chegar à brecha, surpreende-se ao ver, ali imóvel como se fosse parte da paisagem, um
homem alto e bem forte, Já de certa idade, coberto por poeira e terra, impedindo a passagem
do rapaz.
Ele se aproximou do estranho homem, que parecia estar em algum transe meditativo,
sentado de olhos fechados, e disse:
- Erm... – Balbuciou. – Com licença senhor...
O estranho homem abriu seu olho esquerdo, olhou para o rapaz apenas com este e não
tardou a fecha-lo e ignorar o garoto.
- Hey, senhor! – Exclamou com certa impaciência. – Pode me dar licença, por favor?
Dessa vez, o homem abriu os dois olhos e encarou, ainda imóvel, o garoto.
- Preciso passar! – Insistiu
- E para onde vai? – Falou o homem, para o espanto do andarilho. Sua voz era tão grossa
que, perto dela, a suave voz do rapaz parecia um choro de criança. Aon contrário dos olhos
castanhos intimidadores do ancião, o jeito que seus longos pelos faciais brancos se moviam
conforme ele falava chegava a ser engraçado.
O jovem andarilho, mesmo pego pela surpresa, não tardou a responder a pergunta que lhe
fora feita.
- Vou para Gnusa, a cidade que fica por trás dessas montanhas.
- E para que precisa que eu lhe dê licença, se você pode facilmente contornar a montanha em
seis dias?
- Veja bem, meu bom senhor – Controlou o tom de voz – Apenas tenho suprimentos para os
próximos quatro dias, e preciso chegar lá antes que acabem.
- Mas jovem, você não precisa de tanta roupa! E se sentir fome, é só caçar! – Retrucou o
velho.
- Sim, mas não é só isso! Tenho uma doença forte e meus remédios estão acabando. Sem eles,
posso...
- Que pena garoto, pois não posso deixar você passar.
O garoto, surpreso, indagou o motivo. A resposta que recebeu foi como uma confissão de
loucura do homem:
- Veja, meu caro amigo. Sou parte dessa montanha. Não posso deixar-me ser subjulgado por
um garoto. Terá que conformar-se e admirar o que você ver sua morte, ou pela fome ou pela
doença, chegue.
O garoto, julgando – o louco, tentou passar por cima dele, mas ele agarrou sua perna e o
derrubou.
- Um garoto como você nunca poderá sobrepor uma montanha. Sou de pedra, e você, apenas
de carne, osso e água!
O rapaz, depois de tudo, resolveu tomar um banho no rio alí perto. Não parava de pensar no
que fazer: Não tinha chances contra aquela rocha, mas se contornasse a montanha, morreria
antes mesmo da metade do percurso.
“Preciso passar por aquele homem!” Pensou. “Mas ele é como uma rocha, e eu sou apenas
carne...Carne e osso...Carne, osso e água...Água...”
Ele descobriu uma maneira. Na manhã seguinte, se aproximou do homem que ainda estava
ali imóvel, quieto, como se nada houvesse ocorrido. Pegou seu cajado e começou a estoca-lo.
- Hey! Pare de me cutucar! O que é isso? - Esbravejou.
- Se você é a pedra que está no meu caminho, eu serei a água, que com o tempo molda a
pedra, assim como moldou essa passagem a tempos atrás.
O ancião cruzou os braços como se estivesse tentando resistir a uma correnteza. O garoto
então apoiou o bastão sobre a cabeça do velho e derrubou-o, abrindo passagem, e seguiu em
frente.
O idoso ficou ali, disfarçando um sorriso de aprovação para a sábia água.
Agnus Cavichioli Pereira
19/11/2010
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Congelando
Tanto frio que estou sentindo
Nessa noite solitária,faço preces;
E o fogo aos poucos acabando...
Meu sopro frio apenas o enfraquece.
Mantenho-me acordado,tremendo,
Esperando pelo sol,tento aguentar;
Rezo para que venham aninhar-me,
Mas falta-me quem possa escutar.
Qualquer barulho,alegro-me.
Não há alimento que saciem-me;
Não há paisagem para deleitar-me;
Nem predador para terminar-me.
Clamo minha presença para a mata
O vento responde bruscamente;
O fogo já quase se apagando...
Começo a sentir-me doente.
Conto as horas,sem nenhuma precisão,
Pois escuras nuvens cobriram a lua;
Até ela sumiu...Minha paixão.
Não aguento mais sonhar;
O fogo enfim tornou-se brasas...
Será que vou mesmo congelar?
Cansei,não dá para esperar!
Aproximo-me do fogo,para então,
Para só mais uma vez...Soprar.
Agnus Cavichioli Pereira
06/10/2010
Nessa noite solitária,faço preces;
E o fogo aos poucos acabando...
Meu sopro frio apenas o enfraquece.
Mantenho-me acordado,tremendo,
Esperando pelo sol,tento aguentar;
Rezo para que venham aninhar-me,
Mas falta-me quem possa escutar.
Qualquer barulho,alegro-me.
Não há alimento que saciem-me;
Não há paisagem para deleitar-me;
Nem predador para terminar-me.
Clamo minha presença para a mata
O vento responde bruscamente;
O fogo já quase se apagando...
Começo a sentir-me doente.
Conto as horas,sem nenhuma precisão,
Pois escuras nuvens cobriram a lua;
Até ela sumiu...Minha paixão.
Não aguento mais sonhar;
O fogo enfim tornou-se brasas...
Será que vou mesmo congelar?
Cansei,não dá para esperar!
Aproximo-me do fogo,para então,
Para só mais uma vez...Soprar.
Agnus Cavichioli Pereira
06/10/2010
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