terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Conto: Atravessando a Montanha

          Ao reluzente nascer do sol, a luz da aurora de um novo dia iluminava as montanhas e alegrava

a tudo ali presente. Um jovem rapaz que aparentava ser um errante caminhava, caminhava

por aquela área, portando consigo um cajado quase de seu tamanho, algumas roupas e um

pouco de comida que não duraria por uns quatro dias. Ele possuia olhos verdes bem claros,

como a água limpa de um riacho. Cabelo comprido negro, preso em um rabo de cavalo, e sua

estatura era mediana, nem muito alta nem muito baixa. O jovem andarilho planejava chegar à cidade mais

próxima em dois dias, passando por uma estreita brecha em uma montanha.

           Ao chegar à brecha, surpreende-se ao ver, ali imóvel como se fosse parte da paisagem, um

homem alto e bem forte, Já de certa idade, coberto por poeira e terra, impedindo a passagem

do rapaz.

           Ele se aproximou do estranho homem, que parecia estar em algum transe meditativo,

sentado de olhos fechados, e disse:

 - Erm... – Balbuciou. – Com licença senhor...

           O estranho homem abriu seu olho esquerdo, olhou para o rapaz apenas com este e não

tardou a fecha-lo e ignorar o garoto.

 - Hey, senhor! – Exclamou com certa impaciência. – Pode me dar licença, por favor?

           Dessa vez, o homem abriu os dois olhos e encarou, ainda imóvel, o garoto.

 - Preciso passar! – Insistiu

 - E para onde vai? – Falou o homem, para o espanto do andarilho. Sua voz era tão grossa

que, perto dela, a suave voz do rapaz parecia um choro de criança. Aon contrário dos olhos

castanhos intimidadores do ancião, o jeito que seus longos pelos faciais brancos se moviam

conforme ele falava chegava a ser engraçado.

            O jovem andarilho, mesmo pego pela surpresa, não tardou a responder a pergunta que lhe

fora feita.

 - Vou para Gnusa, a cidade que fica por trás dessas montanhas.

 - E para que precisa que eu lhe dê licença, se você pode facilmente contornar a montanha em

seis dias?

 - Veja bem, meu bom senhor – Controlou o tom de voz – Apenas tenho suprimentos para os

próximos quatro dias, e preciso chegar lá antes que acabem.

 - Mas jovem, você não precisa de tanta roupa! E se sentir fome, é só caçar! – Retrucou o

velho.

 - Sim, mas não é só isso! Tenho uma doença forte e meus remédios estão acabando. Sem eles,

posso...

 - Que pena garoto, pois não posso deixar você passar.

            O garoto, surpreso, indagou o motivo. A resposta que recebeu foi como uma confissão de

loucura do homem:

 - Veja, meu caro amigo. Sou parte dessa montanha. Não posso deixar-me ser subjulgado por

um garoto. Terá que conformar-se e admirar o que você ver sua morte, ou pela fome ou pela

doença, chegue.

            O garoto, julgando – o louco, tentou passar por cima dele, mas ele agarrou sua perna e o

derrubou.

 - Um garoto como você nunca poderá sobrepor uma montanha. Sou de pedra, e você, apenas

de carne, osso e água!

           O rapaz, depois de tudo, resolveu tomar um banho no rio alí perto. Não parava de pensar no

que fazer: Não tinha chances contra aquela rocha, mas se contornasse a montanha, morreria

antes mesmo da metade do percurso.

 “Preciso passar por aquele homem!” Pensou. “Mas ele é como uma rocha, e eu sou apenas

carne...Carne e osso...Carne, osso e água...Água...”

           Ele descobriu uma maneira. Na manhã seguinte, se aproximou do homem que ainda estava

ali imóvel, quieto, como se nada houvesse ocorrido. Pegou seu cajado e começou a estoca-lo.

 - Hey! Pare de me cutucar! O que é isso? - Esbravejou.

- Se você é a pedra que está no meu caminho, eu serei a água, que com o tempo molda a

pedra, assim como moldou essa passagem a tempos atrás.

           O ancião cruzou os braços como se estivesse tentando resistir a uma correnteza. O garoto

então apoiou o bastão sobre a cabeça do velho e derrubou-o, abrindo passagem, e seguiu em

frente.

           O idoso ficou ali, disfarçando um sorriso de aprovação para a sábia água.

                                                                                                       
                                                                                                   Agnus Cavichioli Pereira
                                                                                                              19/11/2010

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