sexta-feira, 30 de maio de 2014

Lobo

A solidão é um lobo
Que me acompanha
Na escuridão,
Ouvindo os uivos distantes
Da matilha fantasma;
Ela me cerca pouco a pouco
Na infinita distancia
Da mata profanada
Iluminada pela lua nova
Negra como os olhos do lobo,
Que refletem-na cheia,
Cheia como sonhos de crianças;
Fito meu olhar no dele
E percebo que somos lobos;
Sou ele.

Agnus Cavichioli Pereira
20/05/2014

Poema de um dia chuvoso

Em teus olhos posso ver teu anseio;
Um cara normal que realize teus desejos.
Exatamente o contrário de mim.

Meu contrário é um mero homem normal
Que preenche uma sociedade atual;
Na qual os encaixes são improvisados
Juntando os pedaços temos nós.

Você pode até ficar bem ofendido,
Talvez fique um pouco deprimido
Mas há de encarar meu verdadeiro ser.

A verdade e a ilusão são bem parecidas,
Ambas são realidades manipulativas;
Cabe a você molda-las a seu bel-prazer
Mas há de encarar as outras depois.

Você pode querer que eu seja singelo.
Desista,estou sendo bem sincero.
Não pertenço ao seu mundo.

Sou o hibrido que a sociedade rejeita;
Não namoro suas estranhas ceitas;
Não quero nada com seus rituais
Prefiro cuidar dos meus assuntos pessoais.

Agnus C.Pereira
10/03/2010

Estrelas

As estrelas estão tão longe,
e mesmo assim, o brilho delas
chega até nós...
Mas seu brilho as vezes
é apenas uma ilusão
o brilho de estrelas
que já morreram;
que já se foram;
alguns daqueles brilhos
são apenas lembranças
que confundimos com a realidade...
Tem alguma estrela em sua vida?
                                                                                                                            Agnus Cavichioli Pereira
                                                                                                                                  27/01/2011

quinta-feira, 27 de março de 2014

Definições do Amor

Definições do Amor


O amor é um sombrio ritual

Onde reunem-se as carcaças:

Os restos mortais das paixões;

O funeral de corações extravasados;

Fadados à um ultimo suspiro

Ecoando no peito como a morte;

O som de uma gadanha de obsidiana;

Abatendo sonhos em um único golpe;


O amor é o templo das lágrimas;

E o altar frio da auto-flagelação;

Onde somos açoitados por nossas dúvidas;

Humilhados por nossas esperanças;

E pisoteados por nossos medos ocultos;

E é a câmara do próprio tormento;

Onde somos aprisionados pelo passado

E crucificados pelos menores erros;


O amor é a lua dos sentimentos:

Pálida e de aparência frágil;

Lá alta no céu, musa inalcançável;

Sustentando os nossos sonhos;

Movendo nossas paixões como maré;

Alagando os poucos firmamentos de terra;

Inundando de choro nossos únicos abrigos;

Nossos peitos, trucidados pelo maremoto;


O amor é, por fim, o deicídio onde

Aprendemos a queimar como Satan;

A sermos subjulgados como Lillith;

A vingarmo-nos como um Horus;

A repudiar os inocentes como Hera;

E a fazer rezas como o filho Cristo;

Enquanto pelos olhos esvai-se a vida;

Sacrificamos a esperança em nosso lugar.


Agnus Cavichioli Pereira

13/09/2013

terça-feira, 11 de março de 2014

Sereia de Turmalina Negra

Sereia de Turmalina Negra

Ó sereia que cruza o grande mar;
De mentes e profundos segredos;
Poesias pra ti hei de proclamar,
Com teus cabelos entre meus dedos;

Estátua acariciada pelos ventos;
Feita da mais negra turmalina;
Se resistes ao mais frio aliento,
Como te conquistar com carícias?

Artista, poeta e dona da lua;
Se em troca do teu olhar
Sabes que minha alma é tua,
Para ti podes me tomar!

Para a poesia tem um dom;
Filha das águas de Imanjá;
Nos domínios de Poseidon,
Em meio as ondas sonhará;

Se teu coração não for perfurado
Pelas flechas da paixão de cupido,
Ainda sim pensaria em ficar a meu lado?
Meu calor derretendo teu peito esculpido?

Ó sereia amada que cruza minha vida;
Uma oferenda na praia hei de te deixar;
Um beijo e várias rimas que serão tidas
Como uma oração para quem te amar.

                                                                                               Agnus Cavichioli Pereira

                                        20/02/2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Conto: Atravessando a Montanha

          Ao reluzente nascer do sol, a luz da aurora de um novo dia iluminava as montanhas e alegrava

a tudo ali presente. Um jovem rapaz que aparentava ser um errante caminhava, caminhava

por aquela área, portando consigo um cajado quase de seu tamanho, algumas roupas e um

pouco de comida que não duraria por uns quatro dias. Ele possuia olhos verdes bem claros,

como a água limpa de um riacho. Cabelo comprido negro, preso em um rabo de cavalo, e sua

estatura era mediana, nem muito alta nem muito baixa. O jovem andarilho planejava chegar à cidade mais

próxima em dois dias, passando por uma estreita brecha em uma montanha.

           Ao chegar à brecha, surpreende-se ao ver, ali imóvel como se fosse parte da paisagem, um

homem alto e bem forte, Já de certa idade, coberto por poeira e terra, impedindo a passagem

do rapaz.

           Ele se aproximou do estranho homem, que parecia estar em algum transe meditativo,

sentado de olhos fechados, e disse:

 - Erm... – Balbuciou. – Com licença senhor...

           O estranho homem abriu seu olho esquerdo, olhou para o rapaz apenas com este e não

tardou a fecha-lo e ignorar o garoto.

 - Hey, senhor! – Exclamou com certa impaciência. – Pode me dar licença, por favor?

           Dessa vez, o homem abriu os dois olhos e encarou, ainda imóvel, o garoto.

 - Preciso passar! – Insistiu

 - E para onde vai? – Falou o homem, para o espanto do andarilho. Sua voz era tão grossa

que, perto dela, a suave voz do rapaz parecia um choro de criança. Aon contrário dos olhos

castanhos intimidadores do ancião, o jeito que seus longos pelos faciais brancos se moviam

conforme ele falava chegava a ser engraçado.

            O jovem andarilho, mesmo pego pela surpresa, não tardou a responder a pergunta que lhe

fora feita.

 - Vou para Gnusa, a cidade que fica por trás dessas montanhas.

 - E para que precisa que eu lhe dê licença, se você pode facilmente contornar a montanha em

seis dias?

 - Veja bem, meu bom senhor – Controlou o tom de voz – Apenas tenho suprimentos para os

próximos quatro dias, e preciso chegar lá antes que acabem.

 - Mas jovem, você não precisa de tanta roupa! E se sentir fome, é só caçar! – Retrucou o

velho.

 - Sim, mas não é só isso! Tenho uma doença forte e meus remédios estão acabando. Sem eles,

posso...

 - Que pena garoto, pois não posso deixar você passar.

            O garoto, surpreso, indagou o motivo. A resposta que recebeu foi como uma confissão de

loucura do homem:

 - Veja, meu caro amigo. Sou parte dessa montanha. Não posso deixar-me ser subjulgado por

um garoto. Terá que conformar-se e admirar o que você ver sua morte, ou pela fome ou pela

doença, chegue.

            O garoto, julgando – o louco, tentou passar por cima dele, mas ele agarrou sua perna e o

derrubou.

 - Um garoto como você nunca poderá sobrepor uma montanha. Sou de pedra, e você, apenas

de carne, osso e água!

           O rapaz, depois de tudo, resolveu tomar um banho no rio alí perto. Não parava de pensar no

que fazer: Não tinha chances contra aquela rocha, mas se contornasse a montanha, morreria

antes mesmo da metade do percurso.

 “Preciso passar por aquele homem!” Pensou. “Mas ele é como uma rocha, e eu sou apenas

carne...Carne e osso...Carne, osso e água...Água...”

           Ele descobriu uma maneira. Na manhã seguinte, se aproximou do homem que ainda estava

ali imóvel, quieto, como se nada houvesse ocorrido. Pegou seu cajado e começou a estoca-lo.

 - Hey! Pare de me cutucar! O que é isso? - Esbravejou.

- Se você é a pedra que está no meu caminho, eu serei a água, que com o tempo molda a

pedra, assim como moldou essa passagem a tempos atrás.

           O ancião cruzou os braços como se estivesse tentando resistir a uma correnteza. O garoto

então apoiou o bastão sobre a cabeça do velho e derrubou-o, abrindo passagem, e seguiu em

frente.

           O idoso ficou ali, disfarçando um sorriso de aprovação para a sábia água.

                                                                                                       
                                                                                                   Agnus Cavichioli Pereira
                                                                                                              19/11/2010

Congelando

Tanto frio que estou sentindo
Nessa noite solitária,faço preces;
E o fogo aos poucos acabando...
Meu sopro frio apenas o enfraquece.

Mantenho-me acordado,tremendo,
Esperando pelo sol,tento aguentar;
Rezo para que venham aninhar-me,
Mas falta-me quem possa escutar.

Qualquer barulho,alegro-me.
Não há alimento que saciem-me;
Não há paisagem para deleitar-me;
Nem predador para terminar-me.

Clamo minha presença para a mata
O vento responde bruscamente;
O fogo já quase se apagando...
Começo a sentir-me doente.

Conto as horas,sem nenhuma precisão,
Pois escuras nuvens cobriram a lua;
Até ela sumiu...Minha paixão.

Não aguento mais sonhar;
O fogo enfim tornou-se brasas...
Será que vou mesmo congelar?

Cansei,não dá para esperar!
Aproximo-me do fogo,para então,
Para só mais uma vez...Soprar.

                                                                                                       Agnus Cavichioli Pereira
                                                                                                                           06/10/2010